Burnout: Apostas no cansaço

Burnout e Bets: Apostas no cansaço

trabalhadores

10/12/20246 min read

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Uma visão geral

A relação entre o cansaço acumulado e o comportamento dos trabalhadores é um tema que requer nossa atenção, especialmente quando se considera o papel da fadiga mental nas decisões diárias. A exaustão, seja ela física ou emocional, pode levar os indivíduos a buscarem alternativas para escapar da pressão do trabalho.

Na ascensão da revolução industrial, não era diferente. Você sabe a origem do fim de semana?

Só conquistamos esse descanso quando a elite burguesa da época percebeu que os trabalhadores estavam tendo produtividade baixa com 1 dia de descanso, mas não pelos motivo que você deve estar pensando. Eles não estavam preocupados que os camaradas estavam cansados, sem tempo para a familia ou lazer, não não.

A baixa produtividade se dava pois no dia de descanso, os trabalhadores bebiam e se divertiam, buscavam atividades de lazer, com o "excesso" no consumo do alcool, os males do vício começa a impactar a produtividade no resto da semana. Sim camarada, a história, no fim do dia, é que a elite só não nos vê como seres humanos, não somos dignos do descanso nem de sentarmos ao lado deles no avião.

"Enquanto liberais clássicos, descendentes de Jeremy Bentham e Stuart Mill, consideravam que o sofrimento, seja do trabalhador, seja do cidadão, era um problema que atrapalhava a produção e criava obstáculos para o desenvolvimento e para o cálculo da felicidade, como máximo de prazer com mínimo de desprazer, a forma de vida neoliberal descobriu que se pode extrair mais produção e mais gozo do próprio sofrimento." (livro "Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico" por Vladimir Safatle, Nelson da Silva Junior, Christian Dunker)

No fim, a instituição igreja também percebeu estar perdendo público da missa aos domingos e decidiu apoiar os movimentos de trabalhadores que lutavam por 2 dias de descanso, assim, os trabalhadores poderiam buscar lazer em um dia e ir para igreja no outro.

Mais uma vez, nossa fé é sequestrada pela elite para nos controlar, nos condicionando como cães adestrados. Não apenas nos ensinam a não questionar ou enfrentar suas estruturas, mas nos levam a acreditar que essas mesmas elites merecem ser defendidas e protegidas. Assim, muitos de nós, iludidos, passam a enxergá-las como indispensáveis, como se lhes devêssemos gratidão ou lealdade.

Fomos levados ao extremo com pandemia e seguimos sendo testados diariamente ao sairmos para trabalhar enquanto a crise climática, criada e impulsionada pela elite burguesa do agro, destrói nossas casas e ameaça nossa segurança. Não vou entrar no mérito agora da própria segurança pública.

Recentemente, vem ganhando força um movimento entre trabalhadores de Tecnologia da Informação (T.I) em defesa do descanso e da redução da jornada de trabalho, embora ainda tenha pouca tração no Brasil. Infelizmente, nossa classe permanece muito fragmentada, e a precarização defendida pelo(s) governo(s), onde a falta de direitos trabalhistas é tratada como uma conquista coletiva impulsiona muito isso. Muitos são levados pelo discurso de que, ao abrir mão desses direitos, um dia estarão no lugar do opressor.

"Quando o indivíduo é colocado como centro da dinâmica, na verdade pesa sobre ele com máximo vigor uma lei externa, a lei da valorização do capital. Ao internalizá-la, é o próprio indivíduo que passa a exigir de si mesmo ser um empreendedor bem-sucedido buscando “otimizar” o potencial de todos os seus atributos capazes de ser “valorizados”, tais como imaginação, motivação, autonomia, responsabilidade." (livro "Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico" por Vladimir Safatle, Nelson da Silva Junior, Christian Dunker)

Todos nós conhecemos aquele gerente ("lider") que se acha mais que o dono da empresa e se orgulha da sua desumanidade. Na área tech a maioria acaba virando influencer (e vendendo curso caro) para cooptar mais pessoas para esse ciclo maldito de ignorância e perpetuar a venda e exploração de mão de obra barata para o exterior.

Somos alvos fáceis

Pesquisas indicam que quando os trabalhadores se sentem sobrecarregados e cansados, sua capacidade de avaliar riscos diminui significativamente, resultando em decisões menos racionais.

Junte um trabalhador exausto, cansado, sem perspectivas de ascensão, sendo o mais afetado pela crise climática burguesa, e tendo suas fontes de lazer esgotadas ou destruídas, o que resta para ele se não buscar o prazer imediato? Se essa pessoa não encontrar uma fonte de dopamina, o fim será trágico. Historicamente o álcool acaba exercendo esse papel nas massas, mais recentemente maconha e entre as elites cocaína e crack (sim).

Entre os trabalhadores, o consumo de ansiolíticos e antidepressivos cresce para suportar cargas de trabalho cada vez mais pesadas. Até mesmo nossas crianças, cada vez mais cedo, estão sendo medicadas com antidepressivos e estimulantes para atender às expectativas de desempenho.

Como um lobo em pele de tigrinho, as bets tomaram de assalto a maioria* desses vícios, com crescimento rápido e avassalador na sociedade. Sem resistência, 'infiltraram-se' na mídia burguesa, que só busca o lucro a qualquer custo e despreza a própria população. Hoje, estão presentes em tudo: das propagandas no programa da Ana Maria ao futebol de quarta-feira, estampando até mesmo o manto sagrado dos nossos times.

Programadas para a sua derrota, a esperança de mudar de vida ou simplesmente como um meio de aliviar o estresse, as bets sequestraram os trabalhadores brasileiros. As casas de apostas utilizam estratégias de marketing que exploram essa combinação de exaustão, revolta de classes desorientada e vulnerabilidade social com a cumplícidade de influencers que "saíram de baixo" e agora são milionários das bets, sem mencionarem para você, é claro, que a maioria tem envolvimento com o tráfico e as bets são só lavagem de dinheiro.

Quem pode culpar o usuário por tentar escapar da rotina desgastante e conquistar um prêmio que mudará a sua vida?

As campanhas publicitárias frequentemente destacam bônus, promoções e a possibilidade de ganhos expressivos, criando um ambiente que atrai aqueles que buscam uma saída fácil desse ciclo de sofrimento. Essa valorização do lucro rápido em detrimento de uma experiência de entretenimento saudável tem como consequência a proliferação de dependências, e a música tem uma forte influência nos estilos de vida que vendem.

É uma questão de saúde pública e todos precisamos estar nesse combate.

Valorização do Trabalho e da vida

Para mitigar o impacto do cansaço nos trabalhadores e promover a valorização de suas habilidades, só há um caminho, dois na verdade. O primeiro seria a superação do capitalismo, enquanto não debatermos esse ponto de forma séria e sem histerias, não avançaremos no debate real.

As massas precisam entender que se não superarmos o capitalismo ele nos matará, como vem matando cada vez mais rápido. Segundo, militarmos por práticas que favoreçam um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal, como o fim da escala 6x1, alguns países já falam em dias de semana com 4 dias uteis e 3 de descanso, estamos muito atrasados.

Em primeiro plano, a implementação de políticas de flexibilidade de horários pode contribuir significativamente para reduzir o estresse e a fadiga, permitindo que os trabalhadores ajustem seus horários de acordo com suas necessidades pessoais. Essa flexibilidade não só melhora a qualidade de vida, mas também aumenta a motivação e a produtividade.

Além disso, a promoção de um ambiente de trabalho positivo, que valorize a saúde mental e física dos trabalhadores, é fundamental, só podemos garantir isso através de direitos trabalhistas, garantidos a todos e universal. Iniciativas como programas de prevenção ao burnout, acessibilidade a serviços de saúde mental e espaços dedicados ao relaxamento são estratégicas para cultivar um clima laboral mais saudável. A educação sobre a importância do autocuidado e práticas de mindfulness pode ser uma maneira eficaz de capacitar os trabalhadores a gerenciar sua própria resiliência frente ao estresse, mas ainda parece muito distante da realidade.

Por outro lado, a conscientização sobre os riscos das apostas no ambiente de trabalho é essencial. As empresas devem implementar treinamentos e workshops que discutam a natureza dos 'high risks' e seus impactos, permitindo que os trabalhadores desenvolvam uma percepção crítica sobre seu papel na sociedade.

Exemplos de empresas que têm adotado iniciativas promissoras nesse sentido incluem aquelas que promovem "dias de saúde", onde os colaboradores são incentivados a participar de atividades físicas e workshops sobre gestão de estresse e saúde mental, e claro, uma remuneração justa.

Assim, ao integrar essas práticas na cultura organizacional, as empresas não apenas ajudam a reduzir o cansaço e aumentar a resiliência dos trabalhadores, mas também efetivamente valorizam suas habilidades e contribuições, promovendo um ambiente onde todos podem prosperar.

Eu sei que o cenário ideal esta muito longe da realidade, principalmente para pessoas fora da área tech, mas exatamente por estarmos nessa posição de privilégio, onde com muita luta conquistamos algumas melhorias e outras nos foram dadas devido a escacez de mão de obra, exatamente por estarmos nessa posição, devemos lutar para expandirmos esses direitos a todos e estarmos atentos para que não sejam subtraídos.

Links relacionados:

Burnout - https://youtu.be/lrBGrwZ2Tbk?si=XaTufwR5f9fpNOEl

Quem inventou o fds? https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-inventou-o-fim-de-semana

A mitologia do espírito de dono - https://www.youtube.com/watch?v=lAguXA_B3zw

Livro Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico

'Bets' causam impacto na quitação de contas e consumo no varejo - https://www.fecomercio.com.br/noticia/pesquisa-da-fecomerciosp-para-9-dos-apostadores-bet-e-investimento

Pesquisa inglesa mostra que redução da jornada de trabalho não afeta produtividade - https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/pesquisa-inglesa-mostra-que-reducao-da-jornada-de-trabalho-nao-afeta-produtividade/